Nas poucas páginas que se seguem consta o esforço de elucidar o problema “O que é a filosofia?” na visão do pensador alemão Nietzsche. Para essa tarefa era necessário destacar o objeto primordial da questão com o único objetivo de não contaminar o conceito com o filósofo e a sua especulação filosófica e assim evitar transformar o trabalho em uma descrição cronológica ou uma dissertação de acordo com a vida e obra do autor.
No livro “A genealogia da moral” Nietzsche descreve uma instigante reflexão sobre a sua visão de filosofia. Essa citação organizou todo rumo para elucidar “O que é a filosofia?”, afastando o perigo de responder “Qual é o produto que essa filosofia produziu?”. Sendo distintas as perguntas, logo perseguem objetivos distintos.
“Esse é o único modo de pensar digno de um filósofo. Não temos o direito, por qualquer motivo, a viver isolados. Não nos é permitido enganar-nos nem encontrar a verdade por acaso. Pelo contrário, assim como é necessário que uma árvore dê frutos, assim nós frutificamos nossas idéias, nossos valores, nossos “sim”, nossos “não”, nossos “se” , nossos “como” que se desenvolvem, todos aparentados e relacionados entre si, como testemunhas de uma vontade, de uma saúde , de um terreno, de um sol. – Serão de nosso gosto esses frutos de nosso pomar? Mas que importa às árvores? Que importa para nós os filósofos?”
Fica claro que aqui permanece o rumo mais coerente na busca em decifrar “O que é a filosofia?” na visão dionisíaca de Nietzsche. O filósofo elucida a sua forma de ver a filosofia e determina o método de uma investigação honesta e corajosa.
Para Platão, o pensamento tinha que se libertar dos conceitos míticos de sua época. O pensamento só devia ter o compromisso com a verdade. Nietzsche vai além na sua busca. Para o filósofo, o pensamento tem que se libertar de todas as amarras. Até mesmo das regras caducas postas à filosofia. O pensamento não deve ter e nem estabelecer limites para o discurso filosófico. Era preciso até ir de encontro à própria metafísica dos pensadores de sua época. Não vê-la como peça fundamental da filosofia, mas um instrumento para interpretar e regrar o mundo e não uma explicação do universo. Era preciso ir de encontro também aos guardiões da “ratio”, mesmo que isso lhe trouxesse desgosto, sofrimento e a mais profunda rejeição. O Filósofo não pode permanecer escondido em sua torre de marfim por causa das consequências da utilidade da verdade. É preciso, a todo custo, ter um espírito livre.
Também, em muitos dos seus livros, repudiava quem buscava além das estrelas um sentido para existência. Crítico ferrenho da moral cristã, buscava um novo modo de sentir e de pensar. A razão de existir estava em preparar o caminho para chegada de um ser superior, um ser além-do-homem. O filósofo gritaria nos quatro cantos do universo: Deus morreu e com ele a sua filosofia e o seu rebanho. Todos os rebanhos irão findar na preguiça e no esquecimento.
Nietzsche via no homem uma ponte, uma passagem e um declínio. Era no declínio que o homem superaria as suas angustias de viver e fortificaria para continuar a sua jornada evolutiva. O homem era a corda que liga o macaco ao super-homem. A sua grande questão foi o sentido da existência e o valor desse sentido.
Em dois livros (“O anticristo” e “Assim falava Zaratustra”) Nietzsche coloca o filósofo como um ser superior à humanidade. O filósofo é, em sua opinião, um ser de “de consciência nova para verdades que até hoje permaneceram mudas”. Em “Crepúsculo dos ídolos” Nietzsche chegou a comparar o filosofo a uma junção de animal e deus. Esse ser humano-divino se revela um invasor da verdade com ânimo irrequieto, perquiridor. Impossível de domesticar. Disposto a destruir idéias ou, como gostava de denominá-los, ídolos.
Em “Ecce homo” Nietzsche nos diz mais um pouco dessa filosofia que batalhou por toda sua vida. Um relato que se aproxima mais com o Nietzsche filósofo:
“A filosofia, como a compreendi e a vivi até agora, é vida voluntária no meio do gelo e nas altas montanhas – é a busca de tudo o que é estranho e duvidoso na existência, de tudo o que foi até agora proscrito pela moral”.
Essa citação é o retrato fiel de um Nietzsche filósofo. Um homem que fez de sua filosofia a grande transmutação de todos os valores. Essa disposição o fez declarar que já nasceu póstumo (O anticristo) por ser totalmente ignorado em sua época devido aos temas que ousou levantar. Afirmou que não querer admitir o erro não era só um estado de cegueira, mas, certamente, um ato macabro da covardia. Cada conquista da verdade é uma vitória da coragem. O filósofo não deve ser um escravo da opinião pública, do senso comum, da preguiça privada. Deve utilizar a sua existência para combater o conformismo, a mentira. Matar a sua época e estar pronto para morrer com ela e assim despertar a sua época para vida, a fim de resolver, eles próprio, com ela e nela.
Nietzsche lutou com louvor nas suas questões, mas na obra “Genealogia da moral” admite a possibilidade do erro. Confessou que as suas reflexões não estavam livres de um outro martelo mais hábil. Porém, isso não é um reflexo de um filósofo vestido da mais pura humildade. Em “Ecce homo” a sua exuberância é a própria petulância. Uma filosofia sem papas na língua. A verdade é um ponto seco, astuto, sem cerimônia. Ao refletir a possibilidade do erro em algum lugar em seus livros, ele só estava sendo drasticamente coerente com o que acreditava ser filosofia. Mesmo se titulando como “destino”, o próprio destino poderia ser analisado, pesado e alterado por um sentido mais criterioso. A sua verdade também poderia sim conter mentiras.
Nessa viagem empolgante e enriquecedora pelo mundo de Nietzsche, pude experimentar a sua paixão pela filosofia em todos os momentos. Senti todas as suas angustias camufladas em perversos demônios. Contemplei um pensador moralista comprometido em mudar o mundo com um aforismo esmagador, bárbaro. Um cruel martelo para psedo-ídolos. O vi a laquear, em cores cinzas da história, uma nova filosofia. Uma filosofia que ignora a utilidade da verdade, que ignora o senso comum da humanidade e que define o filósofo caiado no papel heróico de um ser superior. O que é a filosofia para Nietzsche? É a boa e velha rebeldia da juventude, é desfrutar a solidão na presença literária dos outros pensadores, é estar sereno e indiferente aos preconceitos e convenções sociais, é o ócio criativo, é estar embriagado pela coragem e acreditar na vitória plena contra qualquer tipo de domesticação.
Referência Bibliográficas:
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. Assim falava Zaratustra.
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. A genealogia da moral.
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. Além do bem e do mal.
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. Crepúsculo dos ídolos.
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. Ecce homo.
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. Schopenheuer Educador
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Martin Claret. O anticristo.
No livro “A genealogia da moral” Nietzsche descreve uma instigante reflexão sobre a sua visão de filosofia. Essa citação organizou todo rumo para elucidar “O que é a filosofia?”, afastando o perigo de responder “Qual é o produto que essa filosofia produziu?”. Sendo distintas as perguntas, logo perseguem objetivos distintos.
“Esse é o único modo de pensar digno de um filósofo. Não temos o direito, por qualquer motivo, a viver isolados. Não nos é permitido enganar-nos nem encontrar a verdade por acaso. Pelo contrário, assim como é necessário que uma árvore dê frutos, assim nós frutificamos nossas idéias, nossos valores, nossos “sim”, nossos “não”, nossos “se” , nossos “como” que se desenvolvem, todos aparentados e relacionados entre si, como testemunhas de uma vontade, de uma saúde , de um terreno, de um sol. – Serão de nosso gosto esses frutos de nosso pomar? Mas que importa às árvores? Que importa para nós os filósofos?”
Fica claro que aqui permanece o rumo mais coerente na busca em decifrar “O que é a filosofia?” na visão dionisíaca de Nietzsche. O filósofo elucida a sua forma de ver a filosofia e determina o método de uma investigação honesta e corajosa.
Para Platão, o pensamento tinha que se libertar dos conceitos míticos de sua época. O pensamento só devia ter o compromisso com a verdade. Nietzsche vai além na sua busca. Para o filósofo, o pensamento tem que se libertar de todas as amarras. Até mesmo das regras caducas postas à filosofia. O pensamento não deve ter e nem estabelecer limites para o discurso filosófico. Era preciso até ir de encontro à própria metafísica dos pensadores de sua época. Não vê-la como peça fundamental da filosofia, mas um instrumento para interpretar e regrar o mundo e não uma explicação do universo. Era preciso ir de encontro também aos guardiões da “ratio”, mesmo que isso lhe trouxesse desgosto, sofrimento e a mais profunda rejeição. O Filósofo não pode permanecer escondido em sua torre de marfim por causa das consequências da utilidade da verdade. É preciso, a todo custo, ter um espírito livre.
Também, em muitos dos seus livros, repudiava quem buscava além das estrelas um sentido para existência. Crítico ferrenho da moral cristã, buscava um novo modo de sentir e de pensar. A razão de existir estava em preparar o caminho para chegada de um ser superior, um ser além-do-homem. O filósofo gritaria nos quatro cantos do universo: Deus morreu e com ele a sua filosofia e o seu rebanho. Todos os rebanhos irão findar na preguiça e no esquecimento.
Nietzsche via no homem uma ponte, uma passagem e um declínio. Era no declínio que o homem superaria as suas angustias de viver e fortificaria para continuar a sua jornada evolutiva. O homem era a corda que liga o macaco ao super-homem. A sua grande questão foi o sentido da existência e o valor desse sentido.
Em dois livros (“O anticristo” e “Assim falava Zaratustra”) Nietzsche coloca o filósofo como um ser superior à humanidade. O filósofo é, em sua opinião, um ser de “de consciência nova para verdades que até hoje permaneceram mudas”. Em “Crepúsculo dos ídolos” Nietzsche chegou a comparar o filosofo a uma junção de animal e deus. Esse ser humano-divino se revela um invasor da verdade com ânimo irrequieto, perquiridor. Impossível de domesticar. Disposto a destruir idéias ou, como gostava de denominá-los, ídolos.
Em “Ecce homo” Nietzsche nos diz mais um pouco dessa filosofia que batalhou por toda sua vida. Um relato que se aproxima mais com o Nietzsche filósofo:
“A filosofia, como a compreendi e a vivi até agora, é vida voluntária no meio do gelo e nas altas montanhas – é a busca de tudo o que é estranho e duvidoso na existência, de tudo o que foi até agora proscrito pela moral”.
Essa citação é o retrato fiel de um Nietzsche filósofo. Um homem que fez de sua filosofia a grande transmutação de todos os valores. Essa disposição o fez declarar que já nasceu póstumo (O anticristo) por ser totalmente ignorado em sua época devido aos temas que ousou levantar. Afirmou que não querer admitir o erro não era só um estado de cegueira, mas, certamente, um ato macabro da covardia. Cada conquista da verdade é uma vitória da coragem. O filósofo não deve ser um escravo da opinião pública, do senso comum, da preguiça privada. Deve utilizar a sua existência para combater o conformismo, a mentira. Matar a sua época e estar pronto para morrer com ela e assim despertar a sua época para vida, a fim de resolver, eles próprio, com ela e nela.
Nietzsche lutou com louvor nas suas questões, mas na obra “Genealogia da moral” admite a possibilidade do erro. Confessou que as suas reflexões não estavam livres de um outro martelo mais hábil. Porém, isso não é um reflexo de um filósofo vestido da mais pura humildade. Em “Ecce homo” a sua exuberância é a própria petulância. Uma filosofia sem papas na língua. A verdade é um ponto seco, astuto, sem cerimônia. Ao refletir a possibilidade do erro em algum lugar em seus livros, ele só estava sendo drasticamente coerente com o que acreditava ser filosofia. Mesmo se titulando como “destino”, o próprio destino poderia ser analisado, pesado e alterado por um sentido mais criterioso. A sua verdade também poderia sim conter mentiras.
Nessa viagem empolgante e enriquecedora pelo mundo de Nietzsche, pude experimentar a sua paixão pela filosofia em todos os momentos. Senti todas as suas angustias camufladas em perversos demônios. Contemplei um pensador moralista comprometido em mudar o mundo com um aforismo esmagador, bárbaro. Um cruel martelo para psedo-ídolos. O vi a laquear, em cores cinzas da história, uma nova filosofia. Uma filosofia que ignora a utilidade da verdade, que ignora o senso comum da humanidade e que define o filósofo caiado no papel heróico de um ser superior. O que é a filosofia para Nietzsche? É a boa e velha rebeldia da juventude, é desfrutar a solidão na presença literária dos outros pensadores, é estar sereno e indiferente aos preconceitos e convenções sociais, é o ócio criativo, é estar embriagado pela coragem e acreditar na vitória plena contra qualquer tipo de domesticação.
Referência Bibliográficas:
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. Assim falava Zaratustra.
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. A genealogia da moral.
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. Além do bem e do mal.
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. Crepúsculo dos ídolos.
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. Ecce homo.
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Escala. Schopenheuer Educador
* Nietzsche, Friedrich Wilhelm. Ed Martin Claret. O anticristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário